quarta-feira, 23 de maio de 2012

Após três meses em branco uma longa metragem !!!


Mais uma vez, a tripulação do Blue Seven em parceria com a Marina do Parque das Nações e a Associação Nacional de Cruzeiros da qual faz parte, volta a organizar o que apelidamos de passeios "Rio Acima" . Neste contexto propusemos aos associados e residentes da MPN um regresso ao Rosário.

Marina Parque das Nações
Desta vez, e ao contrário da primeira iniciativa com este destino, obtivemos logo uma grande aceitação, por ventura fruto da apresentação do programa para 2012 que decorreu no início do ano na sede social da ANC. As intenções começaram a aparecer desde cedo, se bem que, também como habitualmente acontece, só no final da semana, ou seja na Quinta-feira é que a maioria dos participantes se inscreveram... coisas à bom Português, digo eu !!

Das iniciais 16 embarcações inscritas, mantiveram-se 11 embarcações com a participação efectiva de 37 adultos e 14 crianças. Estou convencido que, se as condições climatéricas estivessem mais favoraveis teriamos com certeza mais embarcações e consequentemente mais participantes, mas, dadas as circunstâncias considero o número muito aceitável.

No primeiro andar do edificio principal da Marina do Parque das Nações, pelas 18.30 h, realizamos o nosso Coktail de Boas Vindas e na presença alegre da maioria dos participantes decorreu a destribuição habitual de decomentação...troca de experiências e expectativas e ...... alguns conselhos de desembarque seguro, ou melhor seco (prestado pela ilustre Paula do Trinity)

Como desembarcar  no Rosário


A boa disposição era evidente

Bom foi verificar que, toda a gente, mesmo aquela menos habituada a estas "andanças" cedo se intromaram e o beberete tornou-se num festa onde imperou a simpatia e boa disposição.


Tuba Crew

Equitos Crew

A Filipa no "social"

A turma que fez a coisa acontecer !!

Reunião de Skipper

Onde eles andavam - Palpito que nas Berlengas!!

Afinal a Berlanda é para o outro lado :-)

Hora GameBoy no Blue Seven


O Baptismo do Henrique (direita)

Como as previsões para Domingo não eram as melhores, fizemos um briefing de skippers afim de decidir o que fazer no Domingo, queria partilhar com todos os participantes a decisão de zarpar no Domingo, pelo que, todos decidimos seguir em frente não obstante a previsão de 20 a 25 nós de vento e a possibilidade de alguma chuva à mistura.

Todos em andamento da Marina do Parque das Nações

Os diversos clubes, as diversas Marinas, deviam olhar para estes exemplos e, dentro das possibilidades e tendo em conta as restrições existentes, criar condições para que iniciativas como esta se repitam, delas resulta um grande espírito de comunidade com a natural partilha e entreajuda daí resultante, aliás como mais à frente terei oportunidade de relatar...

O céu prometia !!
A velejada do "Três Penas"
O programa por nós apresentado, tinha em conta a envolvente, nomeadamente o Casino de Lisboa e o Pavilhão do Conhecimento, e se, como no ano passado, a noite foi de final da Liga dos Campeões, os participantes sabiam o que estava a decorrer no Pavilhão do Conhecimento e no Casino de Lisboa, pelo que, soube de participantes que optaram por aí passar o serão. Mas, a final da Liga dos Campeões, levou a melhor a maioria dos participantes ficou pelos cafés locais a assistir pela TV.

Valente chuvada a bombordo
Acordamos com uma valente chuvada matinal que nos pôs algo apreensivos, contudo, verificamos que todos faziam os preparativos finais para zarpar, pelo que, também nós no apressamos a tomar o pequeno almoço e logo largamos amarras.

Em breve estávamos todos ao largo, para grande espanto vejo que a maioria da frota iça a grande e desenrolar a genoa  e se mete ao caminho contra a maré até à entrada do cana do Montijo junto ao Alfeite, eu com a minha tripulação "acriançada" não arrisquei e fui só de genoa para não haver protestos e o consequente motim que é como quem diz boicote ao barco...

Entrada no canal do Barreiro com a base aérea a bombordo

No trajecto, que se faz sem qualquer problema uma vez que se encontra devidamente balizado, apanhamos duas valentes frentes atmosféricas com vento, quanto baste, na casa do 25 nós e a consequente chuvada, pelo que a andar a bom ritmo, cedo chegamos e fundeamos em frente ao simpático restaurante "Baia Tejo".

25 nós mais coisa menos coisa

A Skipper Selma


Rosário a BomBordo

O problema começou aqui !!!

Da frota de 11 barcos, dois não dispunham de auxiliar, contudo tinham previamente avisado pelo que, com esses contava, mas, mais três embarcações tiveram problemas com os auxiliares e só um dos barcos tinha 8 pessoas a bordo, pelo que, com alguma mareta e vento à mistura, a custo transportei todos dos barcos para terra, não sem antes apanhar uma valente molhadela pois optei por ser eu a sair do barco quando chegava a terra.

Tudo a olhar para trás !!!

As condições do desembarque


O bonito restaurante "Baia Tejo"

O almoço decorre no habitual ambiente de boa disposição, e se fui o último a me sentar, uma vez que tive de ir trocar de roupa, fui o primeiro a me levantar pois um dos barco entrou à garra e foi vê-lo a andar de um lado para o outro, como se tivesse vida própria !! até agarrar como se à espera que lhe devolvessem o proprietário.

Salis Crew
Trinity e Vira ventos Skipper´s
Resolvida esta situação, a maioria das pessoas já se encontravam na praia para serem transportadas aos respectivos barcos e começo a "fazer piscinas" no sentido inverso ou seja terra barcos...

A custo e em último embarco no Blue Seven, ligo o motor, retiro o auxiliar e o motor da agua, subo o ferro e eis que quando dou vante a "coisa" não anda, pelo contrário refila, abana, faz barulho e nada de andar para a vante... e aqui a "coisa" começa verdadeiramente a aquecer !!

Exausto, os miúdos assustados, depois de terem apanhado uma valente chuvada e do auxiliar andar mais no ar no que no mar, não me restava outra alternativa senão solicitar auxilio!! e filo de imediato pois sabia que nestas condições todo o minuto contava ....

Entre o pedido de auxilio e a chegada de algum barco, lanço ferro outra vez, vejo o auxiliar literalmente a voar borda fora empurrado pelo vento que se levantara, contudo lanço a mão a um cabo que por pura sorte consigo agarrar, olho á volta !!! e apercebo-me que a "coisada" se iria compor pois a maré virara e estava a baixar vertiginosamente ... e o que seria que o Blue Seven tinha que não andava !!! ... logo agora ...

Aproxima-se o Salis e o Trinity, a Selma contacta via VHF a Marina do Parque das Nações para saber se podiam dar uma ajuda e eu falo com o Mestre João Gregório para saber como eram os fundos por ali e como podíamos evacuar os miúdos ...

Vejo a aproximação do Salis e verifico que encalha ao meu lado apesar da minha sonda marcar 3 mtr, salto para o bote, que entretanto já se encontrava na água, tinha voado para lá... volto o colocar o motor e passo um cabo entre o Salis, e o Trinity que regressara e pairava por ali ... após algumas tentativas, muitas!  safamos o Salis, digo ao Pedro para se por a salvo, não havia necessidade de se colocar a jeito e encalhar outra vez.

Retiro o cabo, amarro-o a um cunho do Blue Seven e o incansável Santana do Trinity tenta retirar-me dali, nesta altura, como calo pouco 1.70 mtr, ainda sinto o barco a boiar, contudo sabia que era por pouco tempo, nisto o Trinity descreve um raio de circunferência e encalha. Baixo os braços chamo nomes à vida, muitos nomes mesmo e fico a olhar !!! 

Reparo na aproximação do Impassível, que tinha voltado para trás, e vejo-o também a encalhar mesmo à frente do Trinity, naquele momento eram 3 encalhanços e como não bastasse o Danuri um Laggon 420,  que também tinha voltado para trás, não obstante os avisos fez a aproximação muito fora do canal e  encalha, e éramos quatro.

A zona de fundeio
O Santana, pessoa com muita tarimba e sobretudo muita calma e sangue frio, desenrola a Genoa, e com o barco de lado tenta em vão sair dali. Chega a Filipa num semi rígido da MPN e tenta como pode ajudar, mas a agua já era tão pouca que o motor do Semi rígido tocava no chão... assumimos que iríamos ali ficar, e o importante era retirar os miúdos e quem quisesse ir dormir a casa. Para essa operação contei com a preciosa ajuda da Filipa e do Mestre João Gregório que enviou um barco para quem quisesse ir para a Moita. 

O Luis Santos do White Fin tinha regressado de carro e tinha-se disponibilizado para levar os miúdos e a Selma para a Marina do Parque das Nações, local onde tinha ficado o carro.

Retiramos as pessoas do Danuri e do Blue Seven e entro à fala com o Mestre João Gregório que me informa que iriamos ficar a seco !!! olho para o Santana e encolhemos os ombros para ver o que iria acontecer, uma coisa ficava clara dali não sairiamos tão depressa.

Entre vários telefonemas, reparo que mesmo ali ao lado se começava a ver o fundo e que estranhamento o Trinity e o Blue Seven estavam direitos, mas que o Impassivel estava já bastante adornado, saio do barco a andar !!! e dirijo-me para o Blue Seven para inspecionar o Sail Drive e vejo a toalha, uma toalha de secar das grandes, possivelmente das utilizadas para secar os miudos quando os transportei da praia para o barco... fico claramente a pensar que se não fosse o facto de andar desenfreado de um lado para o outro poderia ter dado uma ajuda a cuidar dos miudos e que a situação poderia não ter acontecido... mas aconteceu e o que tinha de fazer era criar condições para a retirar ...

Passasdo uma semana o Blue Seven volta a ficar a seco
Como a coisa mais parecida com um pá era o remo do Auxiliar, foi precisamente dele que me servi para fazer um buraco e escavar à volta do SailDrive, o Santana que por ali já andava emprestou-me uma faca de serrilha grande e eu fui preparar-me para me estender por baixo do barco e retirar a toalha e se bem o idealizei melhor o fiz porque com a ajuda do Antonio Pinharanda do Impassível e do Santana em breve o saildrive estava solto !!

Três "encalhados" 
Recebo vários telefonemas e foi altura de ir descansar pois já eram 10:00 e estava exausto, tive o cuidado de preparar qualquer coisas para jantar, e fui tentar dormir. 

Às 11:30 recebo uma chamada do João Rodrigues, que diz estar a para da situação, inteirei-o dos acontecimento e penso que nem lhe perguntei como é que tinha sabido... um dia destes pergunto-lhe... nisto, começo a sentir a agua a bater no costado do Blue Seven, e o barco a manter-se direito mas aos poucos a ficar mais alto... 

Para os que nunca tenham passado por uma experiência destas, que não é o meu caso uma vez que já fiquei em frente ao Trancão, penso que, o que marca mais é constatar a velocidade com que a agua avança, é verdadeiramente espantoso como a agua avança rapidamente... um dia destes estava a contar a peripécia a um comandante Português de navios de cruzeiros que me relatou que em alguns lugares do norte da Europa a maré entra tão violentamente que só a correr é que se consegue acompanha-lá !!

Consigo dormitiar um pouco, leio umas paginas do livro para a descontra e são duas da manhã e o António diz-me que têm agua e que vai para a marina pois tinha ficado com o miúdos a bordo e Segunda era dia de testes... diz-me também que o Catamaram também já tinha saído dali...

Entretanto vejo que o Trinity já tem o motor ligado e vou ter com ele, combinamos fazer mais um compasso de espera e as 02:00 tentarmos sair dali. Volto para o Blue Seven, ligo o motor e vou fazer qualquer coisa para comer.

Conforme combinado às 02:00 o Trinity ensaia sair dali, mas não consegue, eu como calo menos tento e vejo que a vante não engata ... tento várias vezes, manche para a frente, manche para trás e nada !! penso que raio de coisa esta, será que a transmissão sofreu alguma coisa com o agarranço do helice ! volto a entrar para o auxiliar e dirijo-me ao Trinity para ir buscar o Santana. Olhamos os dois para a caixa e não discurtinamos nada de mal, pelo que volto a levar o Sanana ao Trinity e em desespero de causa regresso e mexo à mão na terminação da bicha que vem da manche accionar a patilha do saildrive e vou ver se consigo marcha. Consigo ter andamento pelo que não desengato, não vá o diabo te-celas outra vez, retiro ferro e consigo sair dali, no momento o que mais me importava era sair dali, sair dali e enfiar-me no canal para que quando a maré vaza-se não voltar a encalhar!

Quando olho em frente vejo que o Trinity já não lá estava! tinha igualmente conseguido ter andamento e já se encontrava a fundear no canal a bombordo pronto para me ajudar... chamo-o aos gritos pois o VHF estava lá em baixo, mesmo o de emergência e digo-lhe para ir à frente pois a minha plotter fica junto à mesa de cartas num sitio tão bom tão bom que não dá para navegar e olhar para ela !!!

Em hora e meia estava a entrar na Marina do Parque das Nações que parecia um "caldo", não mexia uma palha e apesar de ir muito devagar enbato contra o pontão, não foi um embate assim tão pequeno porque a defensa de proa apesar de ser pneumática arrebentou, mas o barco nada sofreu, penso que ainda assim há qualquer coisa que não está bem...

Dou uma ajuda ao Santana a parar o Trinity e volto para o Blue Seven, ensaio engrenar vante e ré e a coisa parece funcionar, descanso, para não variar lavo o barco por dentro e por fora e dou por terminado o meu passeio ao Rosário...

Como a história não fica por aqui, na terça, porque fiquei a "matutar" na cassetada que dei no pontão, vou ao Blue Seven no intuito de ensaiar engrenar o sailsrive e para meu espanto não funciona !! um pequeno suporte da bicha mesmo junto à manche de accionamento está partido !!! afinal não consegui engrenar ré quando cheguei pensei de imediato! contudo de seguida pergunto como foi possível ter funcionado quando saí do Rosário e quanto ao ensaio que fiz depois de ter chegado !!! com certeza já estava partido e por sorte deve ter ficado "entalado" na pequena forquilha que o conjunto possui, mas que foi sorte no meio do azar foi !!!

Soube que o resto da "frota" de 7 barco regressaram sem qualquer problema, como nós teríamos regressado se não fosse a maldita toalha, mas se não fosse a toalha não havia "longa metragem" e alguns ensinamentos extra.

O que fica e que ilações retirar deste passeio !!! perguntou-me alguém !

Antes de mais o facto de, todos, termos aprendido alguma coisa mais! como o Rui Matos do Batiscafo um dia destes dizia "a experiência é um posto " se assim é, à força acabei de ser promovido !!

O espírito de camaradagem, especialmente de algumas pessoas que, não obstante as condicionantes, tudo fizeram para ajudar, ou porque puderam voltar para trás de barco ou até de carro ou porque simplesmente ligaram para saber como podiam ajudar, ou ligaram mais tarde pois só mais tarde souberam ...

Que encalhar, mesmo a seco não é nenhum drama!! de recordar que o Impassivel ficou de lado e mais não fez que fechar as válvulas de fundo e tudo correu pelo melhor.

Que neste tipo de passeios, neste tipo de navegações estas situações podem acontecer, fazemo-lo num estuário de rio e todos sem excepção têm de ter consciência que isto faz parte.

O mestre João Gregório diz que vai pedir um VHF de emergência para situações deste tipo, depois ao telefone disse-me "Sr. Rui Sr. Rui não obstante o que aconteceu não deixe de cá voltar, pois gostamos muito de os receber por cá" ao que respondi "claro que não, em breve voltamos" e digo mais, muito em breve vou desafiar as gentes da Marina do Parque das Nações para lá voltarmos !!!

"White fin" a dar-lhe !!!


O bonito "Três penas"